Resenha: Fahrenheit 451

Faz tempo que não venho aqui! É a vida, foi complicado ler no último semestre. Porém, o que li vou compartilhar com vocês. Li Fahrenheit 451, em especial, para um trabalho final de espanhol, e me apaixonei! A professora nos deixou escolher entre os livros que ela tinha, e não me arrependi de deixar um romance japonês meio sanguinário para outra oportunidade.

Bom, Ray Bradbury diz que esse é o seu único livro de ficção científica, e o resto é de fantasia. Concordo, e creio que se a história fosse moldada como fantasia, perderia a intensidade.

Lendo o resumo ou a sinopse, certamente acharão que é perda de tempo. Contudo, a maneira de expor suas ideias durante a narração torna o livro profundo. É aquela velha história de que a diferença está em como se conta uma história. E nisso, o livro é brilhante. Uma incrível metáfora (tomara que não vire realidade!).

A premissa do livro é ocasionar uma experiência vista em algumas outras obras também, sobre como seria a humanidade sob certas condições: imagine um mundo em que as pessoas não lêem mais livros, nem se informam sobre o que acontece de sério ao seu redor. E que tudo foi um processo lento em que todos foram desistindo de ler para não se entristecerem ou se preocuparem com a vida e seus dissabores. Ou seja, para serem sempre felizes.

Era nesse contexto que o bombeiro Guy Montag vivia sem se questionar. Afinal, desde quando se entendia por gente, as coisas eram daquela forma. E somente quando conheceu sua nova vizinha, Clarisse McClellan, uma garota vivaz e curiosa, começou a refletir sobre como era a vida que levava, e sobre as pessoas. Clarisse é uma personagem muito interessante, pois era sonhadora com suas observações sobre a beleza da natureza e sua divertida vontade de reparar em detalhes, e ao mesmo tempo muito realista ao apreender tudo o que lhe acontecia.

O primeiro indício para Montag se dar conta de que ela não era uma lunática, embora ele adorasse vê-la ao voltar do trabalho e ouvi-la, foi quando ela colocou em cheque sua própria profissão. Devido à tecnologia avançada, nenhuma casa era consumida pelo fogo, e então os bombeiros se tornaram “Guardiões da paz de espírito” da população, tendo como ofício queimar todos os livros que encontrarem – e a temperatura certa para destruí-los é 451 fahrenheits, explicando o título –, e mandarem prender as pessoas que os detivessem em casa. Clarisse aprendeu com seu tio que em outros tempos, os bombeiros apagavam incêndios, e somente quando confirma isso com seu chefe, Beatty, dentre as demais condutas que foram empregadas com o passar do tempo em relação aos livros e à educação, Montag percebe que há algo muito errado em tudo o que acreditava ser correto e natural. E inicia uma guerra para derrubar o novo sistema.

Como já ressaltei, é mais interessante ler o livro do que qualquer resumo. Explico-me: esse conceito de viver sem informação e reflexão é perturbador. Lendo as justificativas de Beatty para convencer Montag de que o mundo se tornou mais feliz depois dessa adoção de novas maneiras (ou as explicações para incitá-lo a se revoltar, nunca terei absoluta certeza a respeito…) me incomodou muito. Porque são ideias que podem surgir e fazem sentido especialmente hoje em dia, com a superficialidade e banalização sobre o conhecimento e o que é a verdadeira felicidade.

A falsa felicidade no enredo pode ser ilustrada por uma passagem sobre a esposa de Montag, Mildred. Não falei muito sobre ela porque me irritava sua passividade e total ignorância. Ela tentou o suicídio, e se recusou a falar sobre. Não parecia triste, ignorou o fato com todas as forças, e ao final, na minha percepção, ela nem sabia que era infeliz, tal era sua imersão nos programas de televisão sem sentido que julgava muito divertidos, as conversas vazias com parentes e amigos, a vida de estranhos que levava com seu marido. E essa falta de intimidade no casamento e a falta de personalidade de sua mulher levam Montag a ter inveja de sua amiga Clarisse, pela união que havia em sua família. Ele demorou um pouco a se importar com a tentativa de suicídio dela, o que deixa a impressão de como era difícil relacionar-se naquele contexto.

Enfim, recomendo a quem quer refletir um pouco sobre coisas angustiantes de nossa existência! O final surpreende pelo rumo do enredo desde o início, porém não me decepcionou.

 

Ficha Técnica

Título: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Editora: DEBOLS!LLO (aqui no Brasil, publicado pela Editora Globo)
Páginas: 176
Classificação: 5 estrelas

11 respostas em “Resenha: Fahrenheit 451

  1. Nik, adorei a sua resenha!!!
    Vc falou de uma forma tão apaixonante desse livro, que eu estou com vontade de ler agora! hahaha
    Sério, mesmo. Imaginar que os bombeiros eram contratados para queimar livros é muito estranho – e curioso.
    Volte para resenhar mais, viu?
    bjos bjos

    • Ele é pequeno, Lucy, em um dia ou dois você consegue ler tranquilamente!
      Nossa, essa função dos bombeiros foi a que mais me empolgou para escolhê-lo de trabalho final. Adoro coisas diferentes, você sabe.
      Bom, se ler, comente comigo, por favor! xD
      Beijos!

  2. Faz anos que quero ler esse livro. Tenho ele e tudo mais, mas nunca leio. Todo mundo fala que é tão bom qto 1984. Acho que vou criar vergonha na cara e ler. bjks

    • Eu gostei mais de Fahrenheit do que de 1984, Mi. ADOREI 1984 mas Fahrenheit é mais, como posso dizer… perto da realidade, de certa forma. Na minha humilde opinião hehe

      • Mi, eu não li 1984, mas a Ily disse bem o que pensei também: livro me pareceu muito perto do que já vivemos. Acho até que foi isso que mais me angustiou ao ler. Não era algo distante, uma ideia excêntrica, e sim que podia naturalmente acontecer…

  3. Adorei a resenha Nik, assim como adorei o livro! Li ano passado – também como projeto da faculdade. O final me surpreendeu mas também me deixou contente, e realmente dá vontade de dar uns tabefes na cara da Mildred de vez em quando viu. Veja o filme também, não é tão bom quanto o livro mas é uma boa forma de entretenimento – ao contrário dos programa citados no livro. Apareça mais vezes por aqui!!

    • Só de vez em quando? A mulher é um alface decorativo!
      Ok, vou ver quando puder sim! Até porque, fiquei curiosa sobre como ficaria aquela tensão toda em um filme.
      Vou aparecer sim, Ily, eu adoro o blog! É que ando lendo pouco também… *faculdade do Voldão*
      E que bom que gostou da resenha, já tava na dúvida sobre, porque gostei demais do livro para conter minha empolgação ao escrever!

  4. Esse livro foi citado em um dos Clube do Livro da Saraiva aqui do Rio! Todo mundo ficou desesperado quando falaram que os bombeiros queimavam os livros! “MAS COMO ASSIM?” Hahaha!
    Já estava na minha lista e definitivamente, continua hahaha!

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